
Anteontem, dia 23/09, fizemos um evento de projeção de um vídeo sobre a Batalha da UERJ no hall do queijo da UERJ (Maracanã), no qual celebramos o marco de um ano do fim da ocupação da universidade, em 20/09/2024. Durante o evento nos também panfletamos e quando este acabou penduramos a nossa faixa em um dos andares. Após a nota, no fim do post, está anexado o vídeo exibido durante a projeção.




1 ano da Batalha da UERJ, uma retrospectiva da ocupação
Neste dia 20 de setembro, completa-se um ano do fim da ocupação da UERJ, um fim que foi marcado pela tentativa de desmoralização do movimento estudantil, por parte da reitoria Gulnar-Deusdará. Tentativa porque, ao contrário do que a reitoria planejou e alguns ditos movimentos estudantis previram, os estudantes saíram de cabeça erguida, combatendo a opressão da reacionária PMERJ e do Batalhão de Choque.
Para contextualizar: durante o recesso estudantil, no dia 25 de julho de 2024, a reitoria Gulnar-Deusdará, na calada da noite e de forma unilateral, resolveu aprovar um AEDA (Ato Executivo de Decisão Administrativa), o AEDA 038, que alterava alguns pré-requisitos necessários para a concessão de bolsas de assistência estudantil. Entre essas mudanças, a mais polêmica foi a diminuição da renda per capita mínima, que era de 1,5 salário mínimo para 0,5 salário mínimo para o recebimento da Bolsa, essa mudança fez com que centenas de estudantes perdessem suas bolsas. Segundo a reitoria, um dos motivos dessa reforma foi a questão orçamentária; ou seja, a reitoria preferiu cortar as bolsas dos estudantes a lutar ao lado deles pela ampliação do orçamento.
Os estudantes não deixaram isso barato. No dia seguinte ao lançamento do AEDA, estávamos protestando na porta da reitoria e, mesmo durante o recesso, conseguimos nos mobilizar com centenas de estudantes. Nossos gritos de revolta ecoavam pelo prédio, e mesmo assim não apareceu ninguém para esclarecer o porquê do ataque aos direitos dos estudantes. E, como ninguém apareceu, resolvemos que iríamos entrar.
E, mesmo após semanas ocupando o espaço da reitoria, eles não cederam ao principal pedido dos estudantes: a revogação. Então decidimos em uma assembleia estudantil que faríamos uma greve de ocupação. Com nosso direito não sendo respeitado pela burocracia universitária, decidimos ocupar o prédio central do campus Maracanã, o João Lyra Filho. Porém, essa primeira ocupação não durou muito tempo; no dia seguinte, vigilantes patrimoniais, a mando da reitoria, desocuparam o prédio. Poucos dias depois dessa desocupação, agora com mais força, ocupamos o prédio novamente. Organizamos os comandos de greve, nos quais participamos ativamente. Depois da estruturação do comando de greve geral, enviamos diversas propostas pedindo uma negociação, já que o comando de greve geral, naquele momento, era o órgão de representação máxima dos estudantes, mas, por uma escolha conveniente, a reitoria preferiu negociar com o DCE e os CAs.
Ao longo da ocupação, tivemos vários eventos culturais e políticos, como, por exemplo, o Festival Ocupa UERJ, evento organizado por estudantes, com apresentações musicais de diferentes artistas underground. Outro exemplo foi a assembleia que reuniu os três setores da UERJ estudantes, técnicos e docentes, onde, nesta mesma assembleia, militantes (se é que podemos chamá-los assim) de um movimento ultrapassado mostraram seu nível de descolamento das massas e da realidade, ao fazerem um teatrinho apenas para ameaçar nossos companheiros.
Sob a falsa alegação de que os estudantes não queriam negociar e sim fazer baderna, a reitoria buscou ajuda da justiça burguesa e do Estado genocida, numa tentativa de criminalizar a luta estudantil. A reitoria fez o pedido de reintegração de posse, que citava individualmente alguns estudantes e um técnico. Até hoje, não sabemos qual foi o critério utilizado, mas tudo indica que foram picuinhas pessoais que desencadearam essa perseguição. No entanto, mesmo após a divulgação do pedido, os estudantes não desanimaram.
Cada vez mais perto da data de despejo, começamos a debater se iríamos sair ou não. A dita oposição de esquerda defendia que deveríamos sair, mas os estudantes e organizações independentes, aqueles que estavam construindo verdadeiramente a ocupação, decidiram ficar até o último minuto, e essa foi a proposta vitoriosa na assembleia.
No penúltimo dia de ocupação, a reitoria, com ajuda de uma milícia (vigilantes que estavam fazendo um extra) tentou desocupar o prédio, mas falhou miseravelmente. No último dia de ocupação, algumas forças descumpriram a decisão da assembleia de ficar e foram embora. Dentre eles, o Correnteza, que fugiu na calada da noite com o caixa da ocupação. Como se isso já não bastasse, instantes antes da entrada do Choque, eles soltaram uma nota oportunista dedurando todas as forças que votaram e defenderam a posição de permanecer.
A operação da PMERJ contava com centenas policiais e diversos equipamentos, como um tanque de jato d’água , um recurso bastante usado pela repressão em grandes atos. O desfecho da ocupação foi contrário do que imaginavam, em vez de saírem algemados e cabisbaixos, a maioria dos estudantes saiu pelo portão da frente, ilesa de qualquer tipo de algema e os ônibus que estavam lá para levar os ocupantes voltaram vazios. Durante a batalha foram detidas 4 pessoas, dentre eles 2 estudantes que a todo momento mantiveram suas cabeças erguidas e em nenhum momento deixaram de levantar a bandeira da ocupação contra as políticas elitistas da reitoria. Após a detenção, o movimento estudantil da UERJ foi até o presídio e realizou um ato pela soltura dos estudantes, os quais foram liberados no mesmo dia.
Tudo isso não foi graças ao velho movimento estudantil, que, mesmo nos últimos instantes, não se absteve de dar suas opiniões erradas, como a ideia de se trancar na reitoria, onde seríamos facilmente retirados, e outra proposta estúpida: sair pelo portão que concentrava mais policiais, apenas pelo desejo de “sair bem na foto”, algo que não aconteceu naquele dia. Nem para levantar escudos eles serviram.
Neste dia também houve a invasão ao Centro Acadêmico de Filosofia. Arrombaram o cadeado e reviraram o espaço, violando a autonomia estudantil. A questão que fica, para além da violação do espaço físico, é como a tropa de Choque sabia onde ficava o CAFIL?
Os impactos da mudança na política de assistência, feita pela reitoria, são perceptíveis até hoje, desde a terrível fila do bandejão até a evasão de estudantes que dependiam das bolsas para continuar frequentando a universidade.
Não se enganem, companheiros, a nossa luta não terminou. Pelo contrário, ela está apenas começando. Precisamos nos organizar para lutar contra essas políticas que expulsam os estudantes das universidades, elitizando-as cada vez mais. Lutamos por uma universidade do povo, onde os estudantes tenham o direito de entrar e permanecer.
VIVA A BATALHA DA UERJ E A JUVENTUDE COMBATIVA!
LUTAR NÃO É CRIME!
REBELAR-SE É JUSTO!