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Observando o vôo de aves altas no céu, percebo o quão longe vão com as asas abertas, mas paradas. Surfando nas ondas dos ventos, sem esforço, apenas flutuam e apontam, em leves gestos, qual a sua direção.
Descobri que sei voar em tempestades.
Provei isso em diversas situações, internas e externas, em que brisas calmas foram cortadas por um touro descontrolado e agarrei o firme pelo chifre, permitindo me levar no seu atropelo incontrolável e também o conduzindo, o quanto pude, a algum sentido, e assim de alguma forma avançar.
Em certos casos externos, onde este touro se chamava movimento popular, idealistas não fariam nada. Sua direção, longe de poder ser garantida, é abdicada, devido sua pretensa perfeição diante da força incontida da explosão do levantamento de uma multidão. Tampouco espontaneistas, certamente admirados, pela beleza das chamas, saberiam como toca-la e transforma-la em tocha na mão de cada incendiário, para não só queimar, mas iluminar um caminho.
Assim que no caos nunca há o que seja perfeito, mas é imensurável, aquilo que se adquire por aqueles que mergulham e com firmeza, procuram nadar contra as correntes.
No entanto, não há vida só com guerra e apesar de saber observar a sabedoria daquelas aves distantes, meu espírito se inquieta, pois não sabe mais voar com calma. São asas nervosas as que voam como um beija flor que não descansa, como se ao parar, fosse fazer seus batimentos serem interrompidos.
É difícil com os próprios dedos segurar as próprias asas inquietas. Para-las e continuar a respirar. Sobreviver ao pânico de estar tudo bem e depois apenas descansar. A finalidade de toda guerra é acabar e na paz construir vida coletiva, que respira em um dia de alívio. A música ouvida ao acaso, que te desperta em um dia corrido. O calor descoberto, sobre lençóis quentes no frio. O amor nos olhos de uma criança, que cintilam, resgatado em seu brilho. São as expressões do que da sentido a todo o combate que se enfrenta, no dia a dia dos grandes guerreiros e guerreiras, que fazem o planeta girar com as próprias mãos. Em qualquer batalha, somente há triunfo se conduzida por aqueles que, mesmo em guerra, guardam a paz que o povo tanto sonha para o mundo em seu coração e em prontidão para o combate, sempre que pode, se desarma e continua a viver.
