No dia 28/11 foi publicado um trecho do posfácio do livro “A Pequena Prisão”, do ativista e professor Igor Mendes, no site A Terra é Redonda. A seguir segue uma parte do posfácio e o link para a matéria.
“É o que vemos: há de tudo um pouco no fascismo do século XXI, desde fundamentalismo religioso até terraplanismo e sociedades de pessoas que acreditam em experiências paranormais –quem não se lembra das manifestações golpistas ocorridas no Brasil entre outubro de 2022 e janeiro de 2023, em que houve quem acendesse celulares para que alienígenas pudessem tomar conhecimento e se compadecer da triste situação dos autointulados “patriotas”? Não por acaso, o mais importante ideólogo brasileiro deste campo é um astrólogo com passado em seitas ocultistas, transformado em paladino da cristandade.
A “coerência interna” não se obtém por uma identidade própria definida, mas pela radical diferenciação, obtida pela desumanização, do que se considera “o outro”. Ademais, para que possa atrair os descontentes, é mister emprestar a este reacionarismo desvairado um aspecto transgressor. Se, no passado, o fascismo clássico lançou mão de uma agitação anticapitalista para mobilizar os trabalhadores profundamente atingidos pelas consequências da Guerra Mundial e da crise de 1929, no presente esse aspecto transgressor é menos econômico (no econômico, via de regra, essas forças cerram fileiras com o ultraliberalismo de Chicago, embora na Europa Ocidental haja manifestações em defesa do Estado de bem-estar social para os considerados nativos) e mais comportamental e linguístico, entendido como “o direito de falar o que se pensa sem ter que ser politicamente correto”.
Uma aparente incoerência discursiva, que recorre declaradamente à mentira se necessário, que fala uma coisa e o seu contrário na mesma frase, que despreza o que vulgarmente se chama de “cultura” (em geral, quando enunciada desta forma, a cultura erudita) não é fragilidade, mas a força deste movimento, porque tal ocasionismo pode ser atraente em algum momento para qualquer um e é quase impossível de ser derrotado pelo debate. Afinal, quantos argumentos se podem reunir contra o irracionalismo?
Uma coisa, contudo, é incontornável: fascista ainda é sinônimo de pária. Cunhar isto custou muito caro nos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial, de modo que seria uma injustificável concessão deixá-lo de usar contra seus continuadores, obrigando-os assim a se revelarem em praça pública.”