
“Não ter um correto ponto de vista político equivale a não ter alma.” (Presidente Mao)
Rompemos com a Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo porque, tanto em teoria como na prática, ela defende e aplica uma caricatura de marxismo. Seu estreito espírito de seita, atitude doutrinária perante as massas e descompromisso com as próprias palavras são apenas expressões de um apodrecimento ideológico e político completos. Esta organização saltou ininterruptamente do infantilismo à caducidade, sem chegar jamais a produzir os frutos maduros que há muito prometeu. Ela e seus satélites, além das palavras vazias, das bravatas e ameaças contra os que a criticam, esqueceram desde há muito o balanço do grande Pedro Pomar sobre o Araguaia1. Em seu lugar, defendem um foquismo rebaixado, deste tomando emprestada a ilusão de que a revolução pode ser feita por um punhado de “heróis” em substituição ao povo, mas sem que a sua prática tenha qualquer heroísmo verdadeiro, diferentemente do demonstrado pela geração que combateu o regime de 64. Ao contrário, enganam a militância honesta nas cidades – via de regra, os mais jovens e inexperientes, porque os trabalhadores têm instinto e experiência de classe suficientes para não caírem na sua ladainha – e oprimem as massas ou se associam a quem a oprime, ali onde dizem aplicar o que chamam de “revolução agrária”, falácia teórica e política, mera derivação da ideia de “poder popular” integrado ao Estado reacionário. Como políticos burgueses, seus dirigentes não falam o que fazem e fazem o que não falam (embora falem bastante!).
A Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo – cujo até o nome está errado porque, como observaria o Camarada Gonzalo, se é do povo, como não defenderia os seus direitos? – não aplica o centralismo democrático. Isso tem levado ao afrouxamento de laços entre militantes e massas, estagnação e mesmo retrocesso do trabalho. O famoso “das massas para as massas” do Presidente Mao é substituído pelo frenetismo mais insano, com concentração exagerada de tarefas nas mãos dos dirigentes e nenhuma liberação de energia e iniciativa dos membros de seus organismos. Nenhum revolucionário pode se forjar, nem chegar a ser dirigente, sem observar os métodos corretos de trabalho, estudo e propaganda. Discordamos do “centralismo democrático, principalmente centralismo”, porque isto não é dialética, nem maoísmo, mas puro palavrório que justifica uma contrarrevolução na teoria do partido estabelecida por Lênin e desenvolvida pelo Presidente Mao. Se se observa atentamente o estilo de escrita e trabalho e o culto aos dirigentes descaradamente promovido por esta organização, além da desqualificação pura e simples das divergências, constataremos que ela é herdeira das piores tradições do revisionismo da história do movimento comunista no Brasil.
As organizações de massas que se juntaram a este processo após 2013 (em geral constituídas por ativistas combativos e dispostos a se vincular ao povo, como era o caso da Unidade Vermelha aqui em São Paulo), por exemplo, foram assassinadas e seus laços com o movimento real dos trabalhadores foi aniquilado. À juventude, são ensinados os hábitos de seita, de estrito exclusivismo e um estilo de clichê que gera proezas como a de empreender um trabalho político pretensamente encoberto e ao mesmo tempo andar uniformizado. Sejamos justos, semelhante proceder é realmente de uma enorme criatividade! Como o famoso rei da mitologia, mas ao contrário, a direção da Frente Revolucionária destrói as iniciativas onde consegue colocar suas mãos.
Rompemos com a atitude de sectarismo estreito, seja com as massas que a Frente Revolucionária pretensamente dirige, retirando-lhe de suas mãos as decisões, seja na unificação para as ações com outros grupos dispostos a lutar. Tal prática vai completamente contra o princípio de que “as massas fazem a história”. Na verdade, a dita Frente Revolucionária é na prática uma ficção e na teoria uma deturpação, pois nada mais é do que a propaganda, de tempos em tempos, pelos meios mais estapafúrdios ainda por cima, de uma única posição. Quanto à luta proletária e popular reais, ela invariavelmente está à sua margem. Independência política, tal como defenderam Marx, Lênin e Mao não é atuar só, e sim saber unir-se e separar-se de outras forças de acordo com os interesses da classe em cada momento específico. Seus dirigentes confundem combatividade com excentricidade, momento em que seu ranço obreirista-reformista se converte num dos mais negativos traços intelectualistas pequeno-burgueses, com o que têm profunda identidade, inclusive pela base de classe que predomina no interior do seu movimento. A sua estratégia política é simplória: um punhado de iluminados, através da propaganda altissonante, mostrará ao povo “o caminho da verdade”, todos os descontentes se aglutinarão ao seu redor e o Mar Vermelho se abrirá. Em suma, é a repetição de um caminho que a história já provou ter fracassado.
Rompemos com a Frente Revolucionária porque discordamos que a ideologia científica do proletariado hoje é “marxismo-leninismo-maoismo, principalmente maoismo, aportes de validez universal do Presidente Gonzalo”, um salto que teria sido “comprovado pela própria experiência brasileira” (!?!) e que nem mesmo em seus organismos internacionais tem ampla aceitação, quem dirá entre os partidos que dirigem guerras populares. Como uma profecia autorrealizada, esta organização diz que está vencendo porque se apoia numa ideologia pretensamente correta, comprovada nas suas próprias “vitórias”… É um argumento circular, em que o que virá “comprova” a prática de hoje, a conclusão funda a premissa e a ideia “cria” a realidade: apenas como mistificação, é claro. Rompemos com a interpretação da própria ideologia como algo engessado antes mesmo de colocá-la à prova dos maiores desafios, expressão de sua compreensão metafísica da teoria marxista do conhecimento. Esta não admite a desvinculação entre teoria e prática (a prática como critério da verdade), menos ainda “avanços ideológicos” por pura lógica interna dos argumentos. Seu subjetivismo na leitura da luta de classes no país e internacionalmente (com sua “ofensiva estratégica”) é prova disso.
Sua militância e outros ativistas honestos, iludidos com este espelho convexo, acreditam piamente em tais vitórias, porque a ausência de democracia (ou seja, luta interna) e de vínculo com as massas bloqueia o contato com o mundo exterior e priva os quadros e ativistas do contraditório. Ocorre que a verdade não pode ser comprovada fora da contradição, isto não seria ciência, mas religião. Olhem para a manifestação do G20 no Rio de Janeiro: o bloco desta organização era uma coluna muito minoritária, e muito bem comportada aliás, no ato convocado pelo minoritário PCO. Este é o tamanho real, a expressão real, acumulada em décadas por esta organização, quando aparece ao vivo e não pela ótica das inúmeras camadas de edição do seu “maoismo fotográfico”. Outro exemplo foi a mobilização para intervir no ato pelo fim da escala 6×1 em São Paulo, quando a militância, apenas para variar, foi convocada em cima da hora e orientada a se apresentar como uma determinada entidade operária que na verdade só existe nas páginas de certa imprensa de ficção política e nos relatórios internos (e isto na maior concentração proletária da América Latina). Ainda assim, não conseguiu ter nenhuma interferência nos acontecimentos e nem atrair efetivamente qualquer trabalhador.
Isto também vale para as suas pretensas, e sempre hiperadjetivadas, “batalhas” no campo (e a hiperadjetivação não deixa de ser sintomática), que certamente merecem investigação e estudo à partes. Seja como for, dizer que não era possível, nesses últimos anos todos, um maior acúmulo de força política, porque as condições não permitiam, é apenas uma variação oportunista de atribuir às massas a responsabilidade pela sua própria incompetência. Aos militantes que buscam desenvolver trabalho de massas no interior desta estrutura, chamamos a que reflitam: esta linha, seu estilo e seu método têm permitido algum desenvolvimento sério na relação com as massas? A vocês dizemos que as injúrias não nos importam e nem nos atingem, somos e continuaremos a ser pela luta política; estamos e continuaremos a estar abertos a todos aqueles que queiram lutar.
Tal caricatura de maoismo chancela a prática e a persistência em erros fundamentais para o desenvolvimento do movimento revolucionário no país e internacionalmente. Nesse processo de elevação da nossa consciência, foi fundamental a leitura do documento “Marxismo-Leninismo-Maoismo: a pedra de toque da revolução proletária em nosso tempo”2, elaborado pelos companheiros do Comitê Comunista Maoísta e recentemente traduzido e publicado na Revista Two Lines Struggle nº 43. Tal documento faz o diagnóstico completo dos desvios nos campos teórico, político e organizacional que também são defendidos pela Frente Revolucionária e organizações afins. Perguntamos aos que são pela luta de duas linhas: por qual razão não houve resposta a essa crítica? Os marxistas, certamente, não podem temer o debate. E a justeza de suas posições, se corretas, não sucumbem diante de críticas injustas. A supressão do debate lhes parece correta? O silêncio a seu respeito, passados já tantos meses, prova tanto a covardia de sua direção – especialista em “luta de duas linhas” em ambiente controlado, como se fosse um boxeador que só soubesse lutar contra adversários com as mãos amarradas –, como a sua incapacidade, porque para respondê-lo teria que elaborar soluções que nunca forneceu em trinta anos, apoiada na confortável repetição de que afinal de contas tal ou qual definição é correta porque “foi dita por Gonzalo”. Desafiada em público a sustentar suas “verdades incontestáveis”, vê-se de repente desamparada, condenada a viver de ainda mais frenetismo e ainda mais bravatas. Se acham que atos espalhafatosos, desses que geram alguns minutinhos de fama no Twitter, respondem argumentos teóricos consistentes, também nisso revelam seu distanciamento absoluto do socialismo científico e dos exemplos dados por Marx, Engels, Lênin, Stalin e Mao. Ainda mais importante do que indagar da atuação de uma organização (e já falamos bastante da atuação desta organização!) é questionar com que concepção ela atua. Quanto às acusações que fez circular de que os companheiros que romperam trilhariam o caminho do pós-modernismo, das eleições e tantos absurdos sem fundamento, foram todos desmentidos pelos seus documentos publicados e sua intervenções recentes na luta de classes junto às massas.
A nossa autocrítica a fazemos rompendo publicamente com a Frente Revolucionária, com o propósito de superar concepções errôneas e métodos de trabalho típicos do revisionismo, demarcando perante os trabalhadores e a juventude o que é o marxismo-leninismo-maoismo, que tem sido exposto ao ridículo pelas teses e prática desta autêntica “Retaguarda Revolucionária”.
Antônio, Fares e Jorge Zarif.
10 de abril de 2025
1https://lutadeduaslinhas.wordpress.com/2025/01/31/sobre-o-araguaia-pedro-pomar-1976/
2https://lutadeduaslinhas.wordpress.com/2024/09/16/marxismo-leninismo-maoismo-a-pedra-de-toque-da-revolucao-proletaria-no-nosso-tempo/
3https://www.bannedthought.net/international/twolinesstruggle/index.htm
