Nota: Publicamos o arquivo original do Panfleto Lenin Incendiário, escrito pelo ativista Igor Mendes em dezembro de 2019 e há anos estudado pela juventude. Este panfleto está sendo circulado com assinatura diferente, sem assinatura ou sendo falsificado. Apesar de se tratar de um texto político que serve aos jovens de todo o país, não podemos permitir que no meio do movimento popular se falsifiquem assinaturas, textos e palavras, com o risco de nos perdermos do caminho da verdade e portanto, do marxismo. Devemos nos afastar do pântano das táticas oportunistas e até de extrema-direita de revisionismo e falsificação histórica. Chamamos a atenção para que os companheiros tenham cuidado porque a verdade resiste a todas as críticas, e por isso, ela sempre vence.
Nota introdutória
Dois motivos me animaram a escrever este brevíssimo ensaio sobre a tática bolchevique em 1905, aos quais se soma a celebração pelos 150 anos de nascimento do grande Lenin. Foram eles:
1) O evidente interesse histórico do tema. Há, hoje em dia, duas espécies de ataques ao marxismo: um, vindo dos seus inimigos declarados, que querem transformar a primeira investida pelo socialismo numa série de “erros” e de “crimes”; que pintam esta democracia burguesa, putrefata, como o cume do desenvolvimento humano, além do qual não há nada. Outro tipo de ataque, mais insidioso, funciona como uma espécie de Cavalo de Troia: em nome do marxismo, invocando as experiências
revolucionárias (oportunamente deturpadas), alguns querem converter seus dirigentes em seres anêmicos, dúbios, quando não, em liberais pela metade, em ícones inofensivos etc. É um velho truque. Estes “amigos” querem fazer, em suma, deste fantasma inventado pela extrema-direita – o tal “marxismo cultural”, que nada tem a ver com o marxismo de Marx – um ser de carne e osso; querem converter a doutrina que ensina o proletariado a lutar pelo poder num mero guia comportamental, eleitoral, perfeitamente adaptado à velha ordem. Em parte, isto explica
porque – sobretudo nos períodos de auge – alguns jovens preferem acorrer às frases grandiloquentes e ocas do anarquismo a seguir semelhante “marxismo”.
O leitor verá que a potência do maduro Lenin de 1917, chefe da revolução e da guerra civil que a seguiu, já existe no relativamente jovem Lenin de 1905. Um propósito, uma única posição de classe, uma atuação revolucionária coerente, uma militância ardente, apaixonada, incendiária mesmo: este é o Lenin de carne e osso. Vários temas que reaparecerão em 1917 – a dualidade de poderes, a criação do exército revolucionário, a luta de morte contra os oportunistas, a necessidade de preparar conscienciosamente a insurreição e fixar o momento exato da sua data – já estão aqui, em 1905. Na verdade, os bolcheviques nunca renunciaram às heranças da primeira tentativa, ao contrário, propuseram-se a aprender dos erros para “afiar mais a lâmina”, e por isso venceram. Esta lição, de
fundo, válida neste processo histórico concreto, parece ser válida também para analisar o processo histórico no seu conjunto. Uma grande questão para o triunfo da revolução no século XXI é saber defender as heranças
da revolução no século XX.
2) A política. Em todo o mundo, e particularmente na América Latina, no último ano, eclodiram rebeliões populares. Não raro, elas chegaram ao limiar da guerra civil. Como se orientar quando a maré da luta de classes parece ultrapassar as forças próprias dos revolucionários? Como não se perder, em meio ao turbilhão? Como fazer ecoar as vozes que chamam as massas ao combate decisivo, quando parecem ser mais fortes – e, num certo sentido, ao menos material, certamente são mais fortes – as vozes que as chamam à capitulação? Mutatis mutandis, em 905 os bolcheviques se depararam com interrogações deste tipo. Observar como Lenin as respondeu é particularmente relevante, agora. Parece paradoxal, mas observar mais de perto seus passos de há 115 anos talvez seja, hoje, uma questão das mais urgentes. Finalmente, um último ponto: o método. Isto não é uma compilação de citações, porque elas já existem e melhores do que eu poderia fazer. Tentei enquadrar os textos dentro da situação real. Lendo os artigos de Lenin, percebe-se que ele foi não só o intérprete perspicaz, como também o melhor narrador da revolução em curso. Além dos tomos VIII, IX e X das obras completas, que abrangem o período em vista (versão Akal editor, que apareceu na Espanha em 1974, disponível na íntegra no site marxists.org), também foi de grande utilidade a leitura das suas cartas de 1905, que estão no tomo XXXVIII da referida edição. Nas cartas, veremos, além do teórico de vulto e do organizador intrépido, o homem prático, apaixonado, que também se aflige, se impacienta, que se preocupa e aconselha seus camaradas e anseia voltar, o quanto antes, para a Rússia revolucionária. Para completar o quadro, usamos também como fontes o “Compêndio de História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS”, aparecido na URSS em 1938, cuja primeira edição brasileira é do Editorial Vitória de 1945, e a biografia “Lenin (sua vida e sua obra)”, escrita na URSS em 1945 e publicada no Brasil pelo Editorial Vitória em 1955. Em apenas duas ou três ocasiões, no máximo, recorri a textos de Lenin posteriores a 1905, ainda assim, quando estavam estritamente relacionados aos acontecimentos narrados. Não faria sentido reconstituir uma batalha, emprestando aos combatentes armas que eles desconheciam. O interessante é mesmo ver através de quais batalhas as novas armas serão forjadas.
Rio, dezembro de 2019