
Republicamos aqui o importante editorial da Revista Revolução Cultural, do dia 16/06/2025 e atualizado dia 18/06, que analisa de forma precisa a atual situação na qual o mundo se encontra.
16 de junho de 2025, atualizado em 18/06
No sexto dia após o início das hostilidades entre Irã e o Estado sionista de Israel, resta indiscutível que a agressão covarde deste a uma nação soberana, sem qualquer mandato para tal, foi combinada com o governo de Trump. Este, de modo imperial, chegou a dizer que poderia assassinar o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, mas que não o faria “por enquanto”. Embora a situação, do ponto de vista estritamente militar, seja de uma grande assimetria em desfavor da resistência iraniana, Estados Unidos e seu fantoche Israel não têm condições de forçar o regime agredido a uma rendição incondicional a menos que invadam efetivamente seu território. Ocorre que, nesta circunstância, veríamos acelerado em anos e talvez em décadas o fim da hegemonia do imperialismo norte-americano e a eclosão de uma tempestade revolucionária que se espraiaria do Oriente Médio a todo o mundo.
No interior da coalizão reacionária de Trump, já aparecem fissuras, com figuras públicas eminentes do MAGA condenando o “engajamento” norte-americano no Irã. Na verdade, embora tenha prometido à sua base atuar para acabar com as guerras mundo afora e, sobretudo, com o envolvimento ianque nelas (um dos sentidos do seu lema “America First”), Donald Trump simplesmente não pode fazê-lo. Não pode fazê-lo, em primeiro lugar, porque os povos oprimidos resistem a despeito de qualquer circunstância desvantajosa, de que se ressalta o exemplo indescritível da resistência palestina. Em segundo lugar, apesar de sua supremacia militar, deve enfrentar a concorrência de outras potências, seja a Rússia, no campo nuclear, seja a China, emergente tanto econômica quanto militarmente. E, em terceiro lugar, a própria manutenção do status de polícia mundial, e a vantagem que se comprova de poder atuar com grande intensidade em vários teatros simultâneos, traz a desvantagem de ser obrigado a se engajar em frentes não necessariamente determinadas de antemão. Na verdade, é o complexo tecnológico-militar que governa de fato os Estados Unidos, sob qualquer administração, quem decide estas questões e nenhum perfil psicológico de Trump (como pateticamente insistem em traçar certos “analistas”, querendo lhe emprestar uma função causal que não tem) poderá alterar este quadro.
Realmente, os Estados Unidos surgiram como potência imperialista através das guerras hispano-americanas no final do século XIX, como apontou Lênin; avançaram como superpotência ao fim da II Guerra Mundial, na qual se beneficiaram da vantagem magnífica de não terem que lutar em seu próprio território; e só serão varridos da face da Terra quando a resistência dos povos do mundo levar as chamas da guerra revolucionária para dentro do seu território. Pretender qualquer vocação pacifista do imperialismo ianque, a maior geringonça assassina que o mundo já viu (único Estado a usar a bomba atômica, e contra alvos notoriamente civis, em Hiroshima e Nagasaki, no maior crime de guerra da história humana) e de seu preposto sionista, não seria obra de ingenuidade – de todo impossível a esta altura – mas puro cinismo, de que dá mostras diárias e repugnantes a imprensa hegemônica ocidental, convertida em escritório de informações dos agressores sionistas. Não é possível acompanhar o que ocorre na frente de batalha –aérea, por ora – através de veículos como Globo ou CNN, nem com esforço crítico, porque não há qualquer material aproveitável aí. Na verdade, tais empresas, sendo instrumentos da agressão norte-americana e sionista, devem ser alvo também dos protestos e da denúncia da guerra imperialista.
O Irã exerce sagrado direito de autodefesa e luta com as armas que tem. É o que se espera de um Estado soberano, qualquer que seja ele: um Estado incapaz de defender seu território seria indigno de existir, o que vale neste caso independentemente do seu conteúdo específico. O estado terrorista de Israel já enfrenta as consequências de uma guerra de maior intensidade, em comparação com as que vinha travando até aqui, e diversos veículos já noticiam a rápida deterioração dos seus estoques de armas defensivas. É certo que, por enquanto, há disparidade militar a favor dos sionistas, e por uma razão muito simples: à semelhança do que ocorreu com Hitler até o início das hostilidades com o Reino Unido, toda a indústria de guerra dos Estados Unidos e da Europa Ocidental trabalha para Israel, ao passo que o regime iraniano não pode contar com o socorro da Rússia, às voltas com o recrudescimento da frente ucraniana. Por isso, somente picaretas ou ignorantes lastimáveis podem ver nessa capacidade de destruição qualquer engenhosidade ou “resiliência” do Estado fantoche sionista. Além disso, as formas por excelência mais favoráveis à resistência dos países oprimidos são a guerra de movimentos e a guerra de guerrilhas, nas quais o fator humano e a mobilização patriótica de massas exercem um fator crucial, que permite ao exército mais fraco derrotar o mais forte. A guerra aérea é por definição cara e desvantajosa em extremo para os países e forças oprimidos. Ocorre que ela, por si só, por mais danos e sofrimentos que inflija sobretudo à população civil, é incapaz de assegurar ao agressor o controle político sobre o território agredido. A supremacia aérea, portanto, tão propalada pelo gabinete de Netanyahu, não basta para vencer. Por isso, são extremamente relevantes as declarações proferidas nesta quarta, 18, por Ali Khamenei, de que o Irã não se renderá, não negociará sob coação e retaliará os Estados Unidos em caso de bombardeio. De fato, é mera apologia imperialista crer que uma população sob agressão iria do dia para a noite se sublevar contra o próprio regime e não se unir como um só na luta contra o invasor.
Diante deste cenário, há dois desdobramentos mais prováveis da situação, que é extremamente fluida e complexa: ou o governo Trump logrará se valer da agressão sionista para obrigar o regime de Teerã a um acordo em condições muito desfavoráveis a este; ou, caso a classe dominante iraniana e a fração militar ligada mais diretamente aos aiatolás se mantenha em uma firme posição de resistência, ela poderia retaliar uma possível agressão imperialista com o fechamento do estreito de Ormuz e/ou o ataque a estruturas de outras potências imperialistas, forçando seu envolvimento no conflito e mesmo a invasão do país, caso em que realmente o Irã seria não só um enorme cemitério dos invasores como poderia ser o nó que desataria um conflito de dimensões mundiais. Como tanto Iraque como Afeganistão demonstraram, inclusive uma hipotética derrubada do governo local não geraria uma “Pax” como almejam Trump e Netanyahu, mas seria o ponto de partida de uma implacável guerra de guerrilhas patriótica contra os invasores, que pagariam em muitos caixões por cada polegada de terreno ocupada. A isso, se acrescenta a possibilidade, latente desde o Dilúvio de Al-Aqsa, de um grande levantamento dos povos árabes contra seus próprios governos lacaios do imperialismo. O primeiro cenário ainda é o mais provável, mas hora após hora o segundo se torna plausível, inclusive porque deve se considerar o fato de que tanto Israel quanto os Estados Unidos são hoje governados por celerados de extrema-direita, que usam, cada um a seu modo, as agressões externas como contrapeso às suas dificuldades domésticas, ou mesmo o papel do azar e do imponderável em momentos particularmente críticos da história.
O que aqui se disse não diminui, mas, ao contrário, deve estimular a solidariedade mais ativa à resistência iraniana, pois cada míssil que perfura o Domo de Ferro e atinge o território inimigo se constitui realmente como um feito notável. É necessário, do mesmo modo, redobrar as ações de solidariedade à luta heroica do povo palestino, pois a agressão sionista ao Irã ocorreu não por acaso no momento de maior isolamento do Estado terrorista de Israel, quando o cerco à Gaza ameaça ser rompido por uma conjunção de fatores tanto locais quanto mundiais. A denúncia incessante da guerra de agressão imperialista, onde quer que ecloda, e das forças fascistas que a estimulam e ensejam, estão como nunca na ordem do dia, inseparáveis que são do atiçamento do espírito revolucionário dos povos e classes oprimidos que este mesmo estado de coisas acarreta, e que levará em última instância, e através de todos os reveses, à vitória destes últimos. No final das contas, se desatam uma agressão ainda maior ao Irã (um imenso país com 80 milhões de habitantes, grandes recursos energéticos e fronteiriço com a Rússia atômica, no que seria a maior guerra em pelo menos meio século), serão o imperialismo ianque e seu cão de fila sionista quem se atolarão e finalmente morrerão no país.